domingo, 25 de abril de 2010

GIANELLI - A EDUCAÇÃO DOS FILHOS


A EDUCAÇÃO DOS FILHOS

“...e era-lhes submisso.” (Lc 2, 51)

Numa história resumida e tão restrita como é a do santo Evangelho, em que apenas se acenam as coisas mais necessárias e importantes, deixando muitas outras, como afirma o próprio evangelista João, o que significa esse descrever detalhadamente usos e costumes de Maria e José em relação a Jesus?
Como o levavam junto com eles ao Templo de Jerusalém, ainda menino de pouca idade?
Como o perderam? Como o procuraram?
Como, finalmente, o reencontraram no Templo?
Como o repreenderam, o reconduziram com eles a Nazaré “e lhes era submisso”?
Não sabiam, talvez, quem ele era de verdade? Não conheciam, porventura, o grande Deus que se escondia nele?
Pelo próprio Evangelho nós sabemos que disto estavam suficientemente informados!
Mas, o quê? Não acreditavam? Ou se acreditavam, por que preocupar-se tanto em instruí-lo, em doutriná-lo na piedade? Por que assustar-se ou temer por causa dele?
É isso que mais importa: ousar até corrigi-lo, repreendê-lo como desobediente ou pouco respeitoso e quase desligado dos seus?
Por que nos fizeste isso? – pergunta-lhe Maria. Por que, com tanta aflição nossa, te fizeste procurar? “Filho, por que nos fizeste isso? Eis que teu pai e eu, aflitos, te procurávamos” (Lc 2,48).
Tanta queixa ao Filho do Altíssimo? Tanta crítica a um Deus?
Ele suporta tudo isso em paz e, satisfeito com uma breve e misteriosa resposta, baixa a cabeça, interrompe a sua brilhante discussão com os doutores, abandona o Templo e os acompanha, quase arrependido de tê-los desgostado assim.
Mas o Evangelho nos diz mais: que era obediente “e lhes era submisso”..
Que mistério se esconde nessa admirável história? Precisa tanto para entendê-la, diletíssimos? Precisa tanto?
Cristo não veio fazer de Deus, mas de Mestre, de Redentor, de verdadeiro Salvador do mundo.
Cristo é a Verdade e a Vida, mas é também o Caminho.
Cristo é modelo para todos e deu a todos o exemplo: “Dei-lhes o exemplo para que, como eu fiz, vocês também façam” (Jo 13,15).
Não procuremos mais em outra parte a explicação do mistério.
Ele quis ser submisso a Maria, sua mãe, e a José, que foi pai para ele: “... e era-lhes submisso”. Por eles quis ser instruído, orientado e também corrigido.
Deste modo, ensinou aos filhos que nunca devem rejeitar a instrução, a orientação, a correção de seus pais. Ensinou aos pais que jamais devem negar, ao contrário, devem cuidar ao máximo da instrução, da orientação e da correção dos seus filhos.
E, já que não podemos falar de uns e de outros, lhes falarei destes últimos, porque parece que o assunto interessa principalmente aos pais.
Falarei de modo que possa ajudar a todos. E isto espero da divina assistência e da sincera atenção de vocês.
O ser humano nasce e traz consigo, não conhecimento e instrução, mas duas graves limitações. Uma vem da natureza, por isso não é ainda capaz de perceber, entender e raciocinar bem sobre as coisas. A outra é hereditária, ou para falar um pouco mais cristãmente, vem do pecado original, do qual é dolorosíssima consequência.
Por isso, a natureza e a religião se unem no gritar e no impor aos pais o alto e imprescindível dever de formar e de instruir os próprios filhos.
E, se alguém ousasse pedir-me a prova desta minha afirmação, ao invés de apresentar-lhe alguma, o desafiaria a encontrar uma só pessoa instruída, um só sábio, um só filósofo que não lhe diga o mesmo.
E falando a vocês, cristãos, os desafiarei a encontrar-me um só teólogo, um mestre, um escrito qualquer, se não for de um irreverente, que não recorde e não inculque, o mais que puder e souber, esse importante dever.
Acrescentarei, para fazê-los lembrar, se me permitirem, que Deus, por esse motivo, santificou o matrimônio, elevando-o à dignidade de Sacramento; e que a Igreja, instruída e iluminada por Deus, não admite senão quem é instruído suficientemente nas coisas que é preciso saber, não só para si, mas também para ensiná-las aos filhos.
A dúvida, portanto, se houver, não será sobre o dever que os pais têm de instruir seus filhos, mas apenas o quanto e o como fazê-lo. E, sobre um e sobre o outro, nos poremos logo de acordo, enquanto eu me deterei num ensinamento que não apenas será seguro, mas também incontestável da parte de pessoas as mais tímidas, as mais difíceis, as mais escrupulosas.
Verão, portanto, a minha moderação.
- Que formação os familiares devem dar a suas crianças?
- A necessária.
- Como devem dá-la?
- Como melhor souberem e melhor puderem.
- Há alguém que possa fazer objeção a isso? dizer alguma coisa em contrário?

Quem não faz o que pode e o que sabe, quer dizer que não quer.
Supondo que estamos de acordo em tudo isto, já que não posso duvidar, agora lhes pergunto:
1. Vocês acreditam que os filhos dos cristãos destes nossos vilarejos e também desta nossa cidade são todos instruídos sobre tudo o que é necessário saber para ser salvos?
2. Todos sabem e entendem bem os principais mistérios da nossa santa religião, sem o que ninguém é capaz de entender o valor dos outros Sacramentos, nem há esperança de ser salvo?
3. Todos conhecem e entendem, pelo menos, a essência dos Sacramentos que recebem?
4. Todos conhecem e entendem a força daquela santíssima lei que Deus quer que seja observada por todos?

A necessidade destas coisas, certamente, ninguém quer pôr em dúvida. Por isso, todos as sabemos e todos as saberão, vocês dizem, porque em cidade e em lugares muito instruídos, como são estes nossos, é uma vergonha duvidar disso.
Mas, deixem também que eu tema ainda um pouco e lhes exponha os motivos do meu temor:
· Há muitas das nossas crianças que não têm o hábito de participar das instruções que são feitas nas igrejas.
· Em casa não têm quem as instrua.
· Não frequentam escolas onde se ensinam coisas de religião e de devoção.
· Frequentam, ao invés, ruas, praças e outros lugares nos quais se fala de mundo, de vaidade, de pecado, e até mesmo se ensina isso.
Eu pergunto a vocês: onde essas pessoas aprenderão aquilo que é necessário para ser salvas?
Mas virá o tempo, dizem vocês, em que, tendo que ser admitidos aos santos Sacramentos dos altares, deverão, necessariamente, aprender essas coisas. Posso responder que, talvez, não todos!
Não é estranho nem raro o exemplo de quem está e vive tranquilo apenas com o Batismo, até os catorze, dezesseis, vinte anos; e isto em toda a boa harmonia e em toda boa paz dos seus pais.
Posso também dizer que muitos vêm quando, tomados por um certo rubor, não conseguem mais resistir e ficar sem, mas em torno dos quinze anos estão tão envergonhados e tão inveterados na ignorância que os pobres sacerdotes ou se cansam inutilmente para formá-los ou talvez os admitam, não sem ansiedade, mesmo sabendo que ainda não estão suficientemente preparados.
Posso também lhes dizer que outros o fazem, não porque lhes deu vontade, nem porque foram incentivados por seus pais, mas porque os sacerdotes, movidos por aquele zelo santíssimo que os obriga, alguma vez, também a importunar as pessoas, os atraem e os comprometem quase por força.
Mas, deixando andar tudo isso, aqueles anos depois do uso da razão, não são todos anos passados em pecado e em perigo manifesto de andar perdidos?
E se a consciência dos filhos pudesse, pela ignorância, considerar-se desculpada de muitos e muitos pecados, como se podem desculpar os pais?
E depois, deixando isso no silêncio e supondo que todos venham à Catequese para a Primeira Comunhão, que firmeza, que estabilidade vocês acreditam que tenha uma doutrina aprendida por força e por respeito humano, naquela idade tão rebelde e dispersiva, sem ter depois outra formação? Naquela idade que volta bem depressa ao ócio, aos divertimentos, aos jogos, aos vícios de antes, sem cuidar, talvez nunca mais, nem a Igreja, nem as doutrinas, nem os catecismos, nem as outras divinas ou eclesiásticas instruções?
Oh! pobres de nós! A que tempos, para não dizer a que barbáries chegaram alguns dos fieis, também nos lugares mais cultos e mesmo no coração da Igreja Católica!

Mas, perguntarão vocês, o que fazem e o que pensam os seus pais?
O que fazem e o que pensam eu não sei dizer, senão que, na maioria das vezes, pensam e agem mal.
Sei apenas que, satisfeitos de ter dado a vida a estes infelizes seus filhos, fazem muito se os mandam ou encaminham a alguma profissão que possa dar-lhes o sustento; não procuram mais que isso, como se não tivessem alma, ou fossem cães ou asnos dos quais se cuida nada mais que o corpo.
Sei que muitos não fazem nem isso e que os nutrem como tantos animais ociosos, para escândalo da religião, dano da sociedade e para encher, um dia, hospitais e presídios e, depois, finalmente, o inferno.
Sei ainda que outros têm o costume dos animais mais selvagens e ferozes que, depois de ter gerado os filhos e tê-los bem ou mal alimentado até que sejam capazes de caminhar, os abandonam sem escrúpulo, sem consideração e sem ter mais cuidado deles!...
E depois, diletíssimos, o que podem fazer os seus pais, se, muitas vezes, eles mesmos ignoram esses princípios, essa verdade, esses deveres? Se vivem, eles mesmos, mais como infieis do que como cristãos? Se ficam satisfeitos com uma Missa por ocasião das festas, uma comunhão na Páscoa, se caminham como imbecís e indiferentes rumo ao inferno, como se fosse esse o caminho que conduz ao céu?
Todos esses estão bem longe de preocupar-se com seus filhos; também quando, ou por respeito humano ou por certo remorso, cuidassem um pouco deles e ralhassem com eles, mandando-os à catequese, à igreja, às instruções, que proveito poderão ter, se eles mesmos não participam e não lhes dão o exemplo?
Eis, meus caros, o outro importante e, talvez, não menos necessário dever dos pais e das mães em relação aos seus filhos: a orientação.
Se nós fôssemos inclinados mais ao bem do que ao mal, bastaria, sem dúvida, conhecer o caminho que deveríamos percorrer.
Já que, vocês sabem, cada um se inclina ao mal e há mil incentivos que o arrastam ao pecado, mesmo contra sua vontade, a instrução somente, mesmo que seja completa e diligente, não basta.
E se há alguém que duvide disso, quero convencê-lo com as contínuas queixas e com as desculpas que todos os pais dos nossos dias apontam, mais os desleixados do que os dedicados. São elas:
- a juventude está muito mal acostumada;
- não se consegue mais segurar;
- não escuta a mais ninguém;
e outros lamentos semelhantes que se ouvem todo dia, nas casas e também na rua.
Quer dizer, portanto, que essa juventude e essas crianças têm necessidade de atenção e de grandíssimo cuidado; que não basta dizer-lhes que façam o bem, mas é preciso guiá-los ao bem, dar-lhes o exemplo e mostrar a eles, com os fatos, como deve ser feito; que não basta gritar com eles e nem ameaçá-los para que não façam o mal, mas é preciso estar atentos, sobretudo, de dar-lhes oportunidade para isso. É preciso manter longe deles os maus livros e as más companhias. É preciso (para que todos saibam e que não seja estranho para ninguém) fazer como fazem, guiados pela natureza, os próprios animais, por exemplo os pássaros, os quais, não satisfeitos de alimentar os seus pequenos e cuidar deles no ninho, os exercitam para o vôo, os convidam a isso com o seu chilreio e com o seu canto e, mais precisamente, ensinam isso com seu voar. Por isso, estão sempre batendo as asas ao redor do ninho e tanto os conduzem e os empurram de galho em galho, de árvore em árvore, de colina em colina, que, finalmente, os vêem soltos, corajosos e ousados. E não os deixam antes que tenham se soltado por si mesmos.
É preciso fazer como a águia que se ergue muito alto e exercita os filhotes a contemplar fixamente o sol, e tanto os encoraja a apontar e a voar alto, até que os veja suficientemente animados para cuidar-se de todos os ventos, para ultrapassar cada nuvem e superar cada tempestade.
Eis, exatamente, o cuidado que devem ter pelos próprios filhos os pais ótimos: instruí-los, sim, com as palavras e fazê-los instruir quanto melhor souberem e puderem, mas orientá-los eles mesmos nas instruções da Igreja; acompanhá-los aos Sacramentos, levá-los junto com eles à missa e às sagradas cerimônias; com eles rezar, pela manhã e à noite, as orações cotidianas; ler com eles livros espirituais; falar de Deus, da morte, do juízo, do inferno, do paraíso, da eternidade.
E, no que se refere a escolas, mestres, orientadores, diretores e outros, nunca perder de vista aquilo que sempre é pregado, que os filhos (se os pais não são, de fato, maus ou descuidados) não podem nunca ser melhor acompanhados, nem guiados do que pelo pai e pela mãe.
Deus e a natureza entregaram e recomendaram os filhos a vocês. Os mestres e os outros não existem senão para suprir as falhas de vocês.
E daquilo que vocês podem fazer não devem encarregar ninguém. Mesmo que fosse um santo ou uma santa que aparecesse a seus pés, e se fosse mesmo um anjo (posso dizer-lhes mais?), nunca será nem o pai, nem a mãe.
A educação dos filhos Deus não a confiou aos anjos, mas a entregou a vocês.
Estejam atentos, meus queridos, que, tratando-se do falar e do dialogar sobre Deus com seus filhos, não basta qualquer linguagem, mas é preciso ter uma toda própria e particular; quero dizer, aquela linguagem que parte do coração, que vale todos os livros, todos os mestres e todas as escolas, e que as crianças entendem muito mais do que entenderiam qualquer prêmio e qualquer castigo: linguagem que, depois da graça de Deus, é o que há de mais eloquente e eficaz ao coração dos jovens, a não ser que esses sejam já depravados e corrompidos pelo pecado e pelos desvios.
Mas, digo “linguagem”, entendam-no bem, pais e mães, que parta verdadeiramente do coração, de modo que, quando vocês lhes dizem “é preciso fazer o bem”, vejam de verdade em vocês que amam esse bem, que o desejam, que lhes desagrada não poder ou não saber praticá-lo melhor, e vejam, ao mesmo tempo, que vocês fazem o bem de verdade sempre que podem.
Quando vocês lhes dizem “é preciso fugir do mal”, eles vejam e sintam que vocês o temem, que o odeiam, que o detestam: nunca os vejam cometer ações indignas; e se, por acaso, pela sua fragilidade, cairem em qualquer falta, vejam logo o seu arrependimento; sintam, direi assim, a dor de vocês; os vejam solícitos em ir confessar-se e empenhados em corrigir-se; vejam vocês tremerem diante da ideia do pecado e dos eternos castigos; vejam vocês alegrar-se quando se fala de Deus e do seu Paraíso; os vejam prontos ao perdão das ofensas, à esmola, a todo tipo de caridade; os encontrem sempre pacientes, respeitosos em relação às igrejas, às coisas santas e aos sagrados ministros. Vejam, sintam, toquem com a mão que vocês são bons cristãos em obras e verdade, como diz o Evangelho.
Se, ao contrário, vocês disserem uma coisa e fizerem outra; se, mesmo fazendo alguma coisa, a fizerem mais por tradição e por costume do que por espírito de verdadeira devoção e piedade; se os vêem débeis, frios e indiferentes, eles os compreenderão mais do que nunca, ou compreenderão mais do que vocês mesmos compreendem e os farão débeis, frios e indiferentes cristãos; farão deles hipócritas, impostores, incrédulos.
E já que a verdadeira piedade e o verdadeiro zelo, onde existem, não podem nunca ser fracos, nem indiferentes diante do mal, surge, como consequência, o terceiro dever, que é o da necessária correção.
Também as plantas se tornam selvagens se não forem corrigidas e endireitadas, podadas e podadas de novo pelo esperto agricultor. E como vocês podem iludir-se de que seus filhos, todos por natureza inclinados ao mal, rodeados de tantos maus exemplos, escândalos, seduções e perigos, andem sempre bem, não errem nunca e não tenham necessidade da correção paterna?
Oh! Quanta piedade me causam, para não dizer raiva:
- aqueles miseráveis pais que têm medo de fazer mal aos seus filhos se, alguma vez, lhes dão algum castigo, quando merecem;
- aqueles insensatos maridos que brigam com suas mulheres, se estas tomam o chicote ou põem as mãos para manter bem a família;
- aquelas mães superficiais, antes “madrastas”, que não conseguem suportar que o bom pai ou os competentes mestres ponham limites aos seus filhos, com algum moderado castigo;
- aqueles pais e aquelas mães, todos aqueles responsáveis que nunca sabem dar um castigo ou causar um desagrado.

Oh! Que diferente lhes ensina o Espírito Santo, que os adverte a instruir e a controlar em tempo os seus filhos: “Eduque-os e ensine-os a obedecer desde a infância” (Eclo 7, 23).
Batam neles, diz em outra parte o mesmo Espírito Santo, castiguem para corrigir enquanto são pequenos, a fim de que não se endureçam no mal, não lhe neguem obediência e não lhe atravessem a alma com espada de dor, enquanto você se omitiu de dar umas palmadas quando era tempo: “bata-lhe enquanto é criança, para que, depois, crescendo teimoso, não lhe desobedeça e você tenha, por isso, uma profunda dor”. (Eclo 30,12).
Não lhes digo isso, meus caros, para que vocês sejam desumanos ou exagerados no corrigir seus filhos; ao contrário, os quero moderados e bem discretos e gostaria muito que nunca apelassem para o castigo se bastarem as admoestações e as palavras; não quero nem que vocês sejam ásperos, desumanos, grosseiros, arrogantes, se, com as boas, conseguirem que seus filhos andem bem.
Com São Paulo, digo a vocês: não queiram, ó pais, provocar a ira de seus filhos, se não forem forçados a isso: “E vocês, pais, não irritem seus filhos” (Ef 6, 4a).
Mas que o céu os guarde de ser daqueles que não corrigem, não moderam, não controlam seus filhos. Disciplina e correção, grita-lhes o mesmo S. Paulo na mesma citação; disciplina e correção, se quiserem educar bem seus filhos: “criem os filhos educando-os e corrigindo-os como quer o Senhor” (Ef 6, 4b).
Eduquem seus filhos na disciplina e na correção do Senhor. Do Senhor, entendam bem, não do mundo, não do demônio, não das preocupações, não do interesse, não do desprezo.
Disciplina e correção do Senhor, com os grandes e com os pequenos, com os homens e com as mulheres, com os bons e com os maus, aqueles para mantê-los, estes para reduzi-los: “Eduquem seus filhos na disciplina e na correção do Senhor”.
Caso contrário, esperem filhos rebeldes, irreverentes e malvados. Cobrirão vocês de infâmia, de confusão, de ais antes que vocês cheguem à velhice. Anciãos ou enfermos, eles desprezarão vocês, os abandonarão, os insultarão.
Sempre, em vida ou na morte, vocês terão angústia e dor; e depois da morte – ó Deus! – a eterna perdição, talvez junto com eles, no inferno: “... e tu terás uma profunda dor, uma profunda dor” (Eclo 30,12).
Eu não sei, diletíssimos, que ideia fazem da divina justiça certos pais, e como podem viver tranquilos tendo os seus filhos desobedientes, sem religião, libertinos, enquanto sabem que, um dia, Deus lhes pedirá contas da educação que deram aos seus filhos, quando esta tiver sido verdadeiramente cristã, seja pela instrução, seja pela orientação ou pela correção, e os condenará e lhes imputará, talvez em grande parte, os seus erros, os seus pecados e a sua perdição!
Não sei como podem continuar deixando-os correr, gastar e tratar com quem querem e como lhes agrada!
Como podem suportar ouvir e ver todo tipo de censuras, desonras, infâmias, escândalos?
Como podem vê-los caminhar rumo ao inferno, ao precipício e lhes correr atrás tão tranquilos?
Pobres pais! Pobre mundo! Pobres de nós!
Eis como vão as coisas por falta de uma boa educação.
Mas, são grandes, se diz; enquanto são pequenos, se pode fazer algo, mas quando começam a ficar grandes, há o perigo de fazer pior... É juventude, precisa ter paciência e compadecer; depois criarão juízo, aprenderão, verão!...
A este seu “não fazer pior”, a este “ter paciência”, a este “esperar” já respondi outras vezes (cf sermão sobre a liberdade evangélica, vol. I, pág. 94), e não quero mais voltar ao assunto.
Para vocês, porém, que me escutam e, espero, tenham maior bom senso, eu digo que:
- o nosso Mestre Salvador Jesus Cristo, filho de Deus e Deus verdadeiro, foi submisso e obedeceu com todo tipo de sabedoria até a idade de trinta anos;
- Maria e José não fizeram problema de ter que assim guiá-lo, educá-lo e contê-lo;
- não há tempo nem idade em que os filhos não devam estar sujeitos e dependentes dos seus pais, se gostam de viver com eles e tomar parte de sua mesa;
e que, por isso:
- os pais e as mães não devem ter em conta idade em que não possam e não devam mais corrigi-los, especialmente se vivem com eles;
- os antigos patriarcas e, com mais frequência, os primeiros cristãos, mantinham em casa adultos casados e os seus filhos quase velhos e os comandavam sem reserva; os corrigiam, os puniam, e eles se submetiam sempre com respeito e temor;
- Deus amaldiçoou e castigou sempre aqueles filhos que faltaram com esse respeito, como amaldiçoou e castigou aqueles pais negligentes ou muito indulgentes, que não os controlaram, não os corrigiram, não os puniram;
- se lhes falta a coragem e a força, têm a justiça terrena que lhes oferece ajuda, e que mal imensamente menor será se vocês aproveitarem desta para salvá-los e salvar a vocês mesmos, antes de perder-se todos, por puro respeito humano e por não fazê-los perder aquela honra que não têm mais e que vocês também não têm mais; para que vocês o façam, pondo-os fora de casa se fizessem coisas que se opõem às vontades de vocês e às suas mais caras intenções, deserdando-os e levando-os também, talvez, diante dos tribunais;
- o não fazer tudo isso é uma grande prova ou da sua falta de fé ou de sua fatal cegueira;
- justamente porque a maioria não age, a juventude é indisciplinada, desobediente, irreverente, libertina e incrédula;
- se assim continuarmos, o mundo andará sempre pior, a Religião será sempre mais enferma e lânguida, mas vocês, pais, serão os que mais terão que sofrer por isso em vida, na morte e na eternidade: “...e tu terás uma profunda dor”.

Vamos! Então, por quanto lhes é cara a paz, a caridade; pelo amor que têm a esses seus filhos e a vocês mesmos, empenhem-se em mantê-los fora do perigo e a proteger vocês mesmos.
Peço-lhes, em nome da Pátria, da sociedade, do mundo inteiro; peço-lhes, sobretudo, em nome do Deus verdadeiro: eduquem seus filhos e mantenham-nos na disciplina e na correção do Senhor:
“Eduquem seus filhos na disciplina e na correção do Senhor”.



Sermões diversos de Antônio Gianelli para Quaresma e Missão,
publicados pelo sacerdote Antonio Marcone - Volume II, páginas 30 a 44.
Sermões manuscritos, Vol. 3, página 16.